Mais lidas

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Passagem

Eu me lembrei tanto das pessoas, e fazia de tudo pra elas sorrirem que eu me esqueci de mim, esqueci de fazer as coisas que me faziam sorrir. Parei as coisas que mais amava, para agradar aqueles que eu achava que amava, que por fim partiram e não disseram um 'tenha um bom dia'. Deixei tantas coisas, fiz tanto. E por fim quem se machucou fui, quem morreu fui eu, quem se partiu foi eu. E não há mais nada que me prenda a uma toca, quero voar livre e em paz, mas existem correntes que não me deixam.

 Não queremos nossa bagagem cheia de mágoas e tão pouco queremos carregar um fardo pesado, mas a vida já é um fardo e uma bagagem de mágoas. Como não levá-la? Já sabemos que nossas malas estão cheios de males, que nossos sorrisos já não são tão verdeiros como a 20 anos atrás, sabemos bem do gosto amargo que o mundo trás e sabemos também o gosto ruim das pessoas. A vida já é cheia de amargos, a vida já é tão cheia de tudo que por fim acaba se tornando nada com a morte. E sabemos bem o sabor da morte. Morremos cada dia mais um pouco, cada dia que tentamos sobreviver nesse mundo é um dia a mais que morremos. Já somos a bagagem da vida pesada, já fizemos as malas agora só falta viajar. Entretanto, sair do mundo que estamos acomodados a viver não é fácil, não é fácil livrar-se das bagagens passadas. Não é fácil livrar-se do mundo. E sabe o que é o pior em saber pensar? É que sabemos que não somos crianças o suficiente pra poder ser verdadeiros. A vida não é só viver, a vida tem que sentir, saborear. E creio que muitos, assim como eu, esperaram ela passar alguma vez, esperando o dia nascer para que a dor morresse, mas nos esquecemos, pelo menos uma vez na vida, que a cada novo amanhecer e a cada crepúsculo quem morre somos nós. Morremos em amor, morremos em sofrimento, morremos em paz, morremos em saúde, morremos em humanidade, morremos em desastres, morremos em ataques, morremos em momentos serenos, morremos quando acordamos, morremos quando menos esperamos, morremos em nós e esquecemos de valorizar cada morte como ensinamento, apenas lembramos das dores que as mortes causam em nós. E elas só causam dor, porque esquecemos que morremos dentro de nós a cada dia que acordamos.

Izabelle Tomazetti

Nenhum comentário:

Postar um comentário