sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cheiro novo de coisa velha.



Sinto falta de quando eu era feliz, em que não havia corações partidos ou decepções. Sinto falta de encher a cara e não dever isso à ninguém, de ir em shows de rock e me drogar até cair. Sinto falta de sair com os velhos amigos. Sinto falta de agarrar meninos e meninas. Sinto falta do que eu era. Sinto falta do que você era. Sinto falta de você. Sinto falta de nós dois. Sinto falta das sensações, das borboletas no estomago, do frio na barriga, dos arrepios na epiderme, das provocações tuas e do tesão. Sinto falta do gosto exótico do teu corpo, do cheiro de perfume do teu pescoço, daquele sabor da tua boca. Sinto falta de você. Sinto falta do prazer das coisas, prazer de sentir teu corpo no meu. Mas agora é tarde demais pra mudar o passado, tarde demais pra te ter. E agora tudo o que eu faço é me dar o luxo de ser esquecida, como um porta-retrato com uma foto, de nós dois, envelhecida e com poeira.

Emily Cohen

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Qual será o caminho ?

Então eu, Fernando, me olhei entre dois caminhos. O bom e não tão intenso, e o ruim, mas peculiarmente desejado.  Mas qual será o real ? O verdadeiro ?

Bom e normal : aquele que eu terei um final feliz, sem muitas diferenças, seria monótono. Seria igual aos outros (coisa que eu não quero), uma esposa e um lar para cuidar, três filhos nota 10 na escola, sem problemas adicionais. Estabilidade financeira, almoço na casa da mãe de domingo comendo aquela macarronada. Sem muitos riscos, sem muitas atribuições. Apenas igual, talvez a melhor e a sonhada por todos, mas não a sonhada por mim, aliás sempre fui diferente de todos. A ovelha negra da família, o cara que sempre chegava tarde, que enchia a cara com os amigos e falava das bundas e peitos das mais variadas mulheres. Nunca teria sido o melhor homem do mundo, sempre fui o errado. E agora, se sigo este caminho, me torno igual aos outros. Me torno aquilo que antes abominava ser, me torno NORMAL. E qual a graça de ser normal?  Eu, particularmente não vejo nenhuma. Mas, e se eu seguir este caminho ? Com mulher e filhos, será que serei assim tão feliz? Será que meu final será sentado em uma varanda de mãos dadas com a minha "véia" e dizendo a ela: "Olha, querida, nós conseguimos isso, e juntos. Eu te amo minha "véia" ! " . Ela, então vai olhar pra mim com um sorriso murcho, e com as mãos tremulas encostará com muito esforço em meu rosto e ela dirá: "Juntos, assim pra sempre. Eu te amo meu "véio" ! ".  E vendo nossos netos, incansáveis correndo pelo quintal, observaremos o pôr-do-sol. E assim acabaremos deitados em nosso sono eterno, um ao lado do outro. Com um ar de alivio e de conformidade. Pedindo pra que lá em cima estejamos juntos de novo.

Ruim e peculiar: é esse onde passarei as melhores aventuras, onde me machucarei, aprontarei e provarei dos pecados da vida. Bebidas, mulheres, drogas, sexo, rock `n` roll, a minha rotina normal. O filho mal educado, o cara sem medo, sem se prender a nada. Até acabar com meu corpo, com meus sentimentos. Uma hora eu cansarei dessa vida, e ai conhecerei aquela mulher da qual me levará a um outro nível. Uma punk , que escuta Ramones e Sex Pistols, e que não tem medo de enfrentar as pessoas. Aquela que me levará a descobrir os sentidos de tudo, que mesmo se fazendo durona, ainda sim consegue ser serena igual á um anjo. E ai então casaremos. Teremos nossos três capetinhas, que puxaram mesmo pros pais, piores alunos da sala, música alta e banda de garagem, ao invés de estudar. A mulher linda cheia de pircing  vai estar em casa tomando uma cerveja e fazendo a janta, enquanto eu vou estar no meu estúdio de tatuagem , ao som da banda dos meus três filhos, nos quais a vocalista será a minha filha do meio, o guitarrista o mais novo e baterista o mais velho. Estaremos felizes. Sem ver o pôr-do-sol, mas felizes. E ficaremos velhinhos, com os cabelos pintados e com cortes moicanos. Não me importa o que falarem, ainda sim estaremos curtindo nossos shows punks, e pularemos juntos com os nossos filhos e netos (que seguiram a geração da familia). E então, eu e minha punk , morremos ali no meio de um bate cabeça, por tomarmos porrada demais, cairmos e sermos pisoteados. Morte divertida e ao lado dela, no nosso enterro tocará "Pet Sematary" do Ramones. E por fim chegaremos ao inferno com uma entrada triunfal ao som do AC/DC  com "Hells Bells". E seremos eternos.

Serei feliz a qualquer caminho, mesmo sendo um certo e um errado. Farei com que , independente qual seja o caminho, farei dele o certo pra mim, mesmo sendo errado para os outros. Serei fiel aos meus desejos e aos meus conceitos. Serei apenas eu , lutarei pelo que acho justo e certo (nem tanto certo) , mas lutarei para traçar o meu caminho e ser feliz, independente de estar sozinho ou não.

Emily Cohen

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A morte de Daniela

Então a lua não surgiu e seus olhos flutuaram pelo negro e imenso céu. Ela estava saindo da escola, sorria como se a dor não existisse, se fazia forte para não dar explicações e não dava explicações porque queria estar forte. Mesmo com o seu interior estraçalhado pela dor, ela sorria e fingia estar bem. Todos acreditavam, porque ela era uma ótima atriz. Quando ela sentia que estava preste a botar tudo pra fora, toda a dor e angústia que tinha, ela se trancava dentro de si. Morria sozinha. Mas ela continuava fingindo, continuava agindo como se fosse a pessoa mais feliz do mundo. Mas isso um dia explodiu, e foi nesse dia , que a lua não surgiu, que ela não se aguentou. Enlouqueceu. Saiu da escola de noite, e andou sem rumo pra sei lá onde e veio parar aqui. Uns dizem que ela tinha problemas psicológicos, outros diziam que era louca, mas só eu a conhecia bem pra saber que não era nada disso. Era dor, ela sentia dor. Então ela parou aqui, meio sem rumo, sem noção das coisas.

Sentada na calçada agora ela chorava, se batia , se machucava. Olhava o céu, olhava a rua. Olhou tudo, observou tudo, ainda soluçando de tanto chorar, começou a crise. Crise de existência, crise de carência, crise de solidão. Ela sempre foi sozinha, e já estava cansada de caminhar só. Por isso enlouquecera. Por isso morria sozinha. Mas foi ela quem escolheu assim, levava uma vida miserável, mas tinha tudo o que precisava (ou quase tudo) : tinha casa, roupas novas, mãe, pai, irmãos, cachorro, quarto, carro. Mas ela não tinha amor. Amor próprio, amava as pessoas estranhas, repugnância às pessoas que a amavam, queria aqueles que não podia querer. Amava os outros , não pensava nela. E ela enlouqueceu. Seu espírito indomável se entregou aos braços do mais belo homem, que sem piedade o arrancou e levou consigo. E a deixou-a lá, enlouquecendo. Dizem que ela era linda, dizem que nunca se apaixonava e que era durona demais pra isso. Não se privilegiava dos sentimentos de amor. Sabia viver bem, até ele aparecer. Ainda sentada na calçada, parecia perdida em meio ao negro céu. Eu a observava de minha janela, tive medo de saber o que pensava. Então ela ficou lá, até morrer. Ninguém sabe dizer o que causou sua morte, se foi doença, frio, fome, mas dizem que não foi aquela noite que a matara, mas sim aquela vida que levara. Dizem que ela já estava morta consigo, e que isso era a pior morte que se tinha. E assim morreu Daniela, sem explicações, com muitas contraversões, mas sem opções. Daniela era menina forte, era. Era menina. Daniela se foi.

Emily Cohen

sábado, 10 de setembro de 2011

Deixe-a

Mais uma vez ela está sozinha, mas dessa vez é diferente. Ela se sente bem, mesmo estando sozinha. Então ela coloca o seu fone de ouvido e esquece que o mundo lá fora existe, ela coloca o seu Rock 'n' Roll pra tocar, e agora só existe ela e a música dela. Tudo some quando ela se prende dentro de si. A vida se torna mágica, diferente. A vida se torna peculiar, diferente do que ela enxerga lá fora, diferente do que ela vive. No mundo dela existe mágica, existe fadas e duendes. No mundo dela não existe diferença, existe apenas ela. Ela viaja com a alma, ela cria asas e seu corpo flutua dentro da imaginação. Ela se sente leve, não direi completa. Mas ela continua sozinha. Uma hora ela irá voltar. Ela cria , reinventa, solta seus sonhos e viaja em si. A música rola, o corpo relaxa e os sonhos renascem. Mas querido, isso não vai fazer sentido depois que ela acordar, depois que ela voltar. Então, por favor, a deixe só, pelo menos a deixe tentar ser feliz, deixe-a viajar consigo mesma. Deixe-a. Deixe-a.

Agora ela enxergar o azul do mar se misturar com o azul do céu, aquela mistura de sensações, aquela mistura de cores. Ela vê o sol se pôr. Ela vê a lua surgir e agora com a noite, o reflexo do céu estrelado ressalta no mar e enquanto as ondas tocam os seus pés ela sorri, ri, brinca, ela é criança apaixonada, aquela viagem valeria mais que ouro, mas que qualquer coisa. Ela, então, olha em volta e se vê incrivelmente leve, como se pudesse voar e tocar o céu , e ao mesmo tempo tocar o mar. Ela olhava a lua no céu , e olhava a lua do mar. Ela queria subir aos céus, ela queria descer ao mar. Ela queria a lua do céu e ela queria a lua do mar. Em êxtase ela deliria entre as ondas e as estrelas. Ela viaja. Ela viaja.
Agora ela é livre dela mesma. Agora ela é livre de tudo, mas ela não volta ao mundo real. Ela vive assim, no mundo imaginário dentro dela, com o jeitinho todo dela, ela vive, agora, feliz. Feliz. Mas, querido, não completa. E a madrugada acaba quando a lua se poe, mas o dia renasce e ela renasce junto. Cada dia se reinventando, cada dia crescendo e cada dia vivendo.

Emily Cohen

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

I think about you all the time.

Eu fiquei aqui, olhando essa página em branco e pensando em qual seria o próximo assunto a escrever, mas quer saber o que me veio na cabeça: você. Você é a unica coisa que fica em minha cabeça. Eu juro que eu disse a mim mesma: não vou me deixar abater, não vou mais pensar nele, não vou mais escrever sobre ele, não vou me rebaixar a ele de novo. Mas aqui está o resultado, meus olhos com lágrimas e meus pensamentos doidos com a tua ausência, minha consciência pede a tua presença , grita por tua presença. Eu disse a mim mesma que você não me machucaria mais. Mas você tem feito tanta falta. A chuva veio pra diminuir a angústia, a chuva veio pra levar com a água corrente minhas lágrimas, mas ela devia ter levado meu amor. Desculpe , mas eu tentei não te amar, eu tentei não me apaixonar, mas eu não consegui , eu te amei, eu me apaixonei.

E foram todas as vezes que na frente do espelho eu ensaiava o que iria te dizer, mas é sempre quando eu te vejo minha voz perde a força, minhas pernas perdem os movimentos e eu perco os sentidos. E sem sentidos eu perco o chão, eu perco o mundo com um olhar, com apenas um olhar seu. Eu não sei se vou suportar esse amor e a dor que ele causa. É loucura demais pra mim, sentir isso. E eu, que sempre fui do tipo que não se apaixona, e você com esse jeito simples e com esse olhar, me levou a descobrir o que era o amor. Talvez eu não te tenha mesmo, já me convenci com isso, mas sei que nunca vou me esquecer de você. Uma hora a dor passa, ou melhor uma hora eu me acostumo com a dor. Eu só acho que eu to cansada de sempre estar sozinha. Mas , eu ainda sim, penso em você o tempo todo.

Emily Cohen