segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um outro conto de uma mesma saudade.

É até engraçado o jeito que eu levo toda essa dor de sentimento, toda essa explosão de saudade, todo esse medo de futuro. Esse negócio de sentir e ao mesmo tempo não sentir. É estranho.

E olha que engraçado, encontrei o rastro de você em minha mente, um rastro bem mais amplo do que eu me lembrava que existia. E bate aquela saudade de tanto tempo escondida, que há tanto tempo eu me negava a sentir, mas que por esse segundo de ter encontrado em minha mente me fez perceber que eu só fugia do meu fantasma, e fugir dele me assombrava ainda mais. Era como uma máscara sem rosto por baixo. Era como se tudo o que eu tivesse vivido desde a sua partida fosse apenas uma monotonia, fosse apenas umas estrada preta e branca, sem cores. Mas eu só afugentava minhas dores, fugia de mim mesma, não queria enfrentar tudo o que me propus a esquecer. Não queria chorar. E com um simples segundo vagando em minha mente, me veio você. E então, todas as minhas lágrimas, que haviam estado há tempo escondidas, escorreram sobre meu rosto e tocaram o chão. E eu continuei desorientada por horas, por me lembrar que eu não havia te esquecido, que você vivia quente em minha mente. E olhei em tudo o que me tornei e mais uma vez minhas lágrimas escorreram, e o som do meu choro ecou sob meus prantos. Não tive mais força pra enxugar as lágrimas pelas a quais haviam a promessa de que nunca seriam derramadas. E eu fiquei estagnada ao chão. Não tive reação alguma. Apenas estive ao chão, a saudade me enfraquecia as juntas, me amolecia as pernas e não me deixara levantar, e naquela cena de saudade, vi a cor azul dos teus olhos, e depois disso vi o cinza do céu nublado. Tudo o que me dissera quando foi embora era : você merece ser feliz. Mas como seria feliz, se o que me trazia felicidade era o teu sorriso? Não procurei mais seus olhos azuis de angústia, e então continuei no chão. Foi aquele segundo em que vi o teu caminho em minha mente, que me dei conta de que fugir de meus fantasmas era apenas uma maneira de ficar longe de você. E quando eu os enfrentava era apenas a maneira de me lembrar que um dia estive em seus braços, e que um dia seus olhos azuis tinham um brilho especial ao sorrir pra mim. E então, sentia saudades de um fantasma. E continuei presa ao meu caminho preto e branco. Mas sentia saudade de meu fantasma, do fantasma que eu não tinha medo até ir embora.

Emily Cohen

domingo, 22 de janeiro de 2012

Primeiro beijo


Era cedo demais, os temores continuavam a erradicar todo o ser. Estavam mais apreçados do que o normal, pra eles o sol daquele dia era mais especial. Ela se arrumava toda e ia de encontro a ele. Ele se perfumava e ia de encontro a ela. Os dois meio bobos, cochichavam ao invés de conversar, eram imaturos, crianças naquela situação, nunca haviam passado por isso. Era novo. Era de dar medo, mas mesmo assim era bom. E quando o silêncio não se calava, com um longo, desengonçado e delicioso primeiro beijo cessava o silêncio. Não havia se planejado nada, mas se sabia que aconteceria. Era engraçado. E se calava o silêncio com beijos. Até que um dia se perdeu a graça, não havia mais medo, não houvia mais graça, não havia mais amor. E com isso cada um seguia seu caminho até achar um novo primeiro beijo, um novo primeiro momento, um novo primeiro silêncio. Isso continuava. Até que eles se encontraram de novo. E depois disso não se perdeu mais a graça, o silêncio era calado aos beijos dos mesmo bobos da história, a graça era buscada pelo conforto do braço do outro. E não se teve mais silêncios sem sons.

Emily Cohen

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Jogado ao mar

E é com arrepios no corpo que passo de um estado lúcido para um estado devaneado. É com o som dos violinos e do piano que me ponho a escrever minha ultima sintonia com meu ser. É com dores que levei pela minha vida inteira que coloco neste papel tudo o que eu sinto, toda essa confusão e essa falta de coesão em todo o meu ser. É com minhas lágrimas derramadas que me deixo elevar a um estado maior. É com dor alarmante em meu peito que eu passo a escrever todo esse momento de devaneios misturados, toda essa fuga da realidade. É com esse meio peculiar de comunicação que me livro dos fantasmas que tanto me assombraram nas noites escuras nos domingos. É com o som da chuva que me ponho a escrever toda essa ternura e toda essa tortura que minha cabeça faz meu coração esmagar-se por si só, por se sentir culpado de me causar tantos danos. É com incrível leveza que me deixo revigorar meus pensamentos em tantos prantos e em tantos soluços de sorrisos mestiços. E com enorme culpa que me despeço do passado , mas com enorme gratidão pelo grande aprendizado que nos rendeu. E com enorme desespero me desprendo do futuro, no qual eu não sinto a minima vontade de vê-lo ou desvendá-lo, porque sei que a surpresa da chegada é melhor não ser anunciada. E é com meu devaneios noturnos que me fecho para a realidade e me prenso em meus pensamentos. Respiro fundo, fecho meus olhos e meus ouvidos para o mundo, olho e ouço apenas o mar que se move em meu interior. O mar que com tantas ressacas ainda se vê majestoso e se bate forte contra as pedras em seu caminho, e que se vê o perigo a cada tempestade, mas não deixa desvendá-lo em nenhum momento. Olho para meu completo interior e me sinto novamente novo. Como se os papéis rasgados não fizessem diferença, como se minhas fotos molhadas pelas enchentes de emoção não fizessem mais nenhum sentido. E é com os mesmos arrepios que me despeço do mundo em que vivo e passo a torna-me paz em mim mesmo. E é com os mesmos arrepios que me despeço do mundo em que vivo e passo a ser sonhador que voa alto, sem medo da distância do chão e sem o medo de cair.


Carta de um louco antes de se jogar ao mar, escrita a punho da mais bela sereia do mar.

Emily Cohen

Qual é a moral?

E não tem moral da história, no fim sempre acaba. Não tem sentido de fim, não tem moral, não começo e nem meio, não tem nexo, coesão, concordância, coerência ou segue uma ordem cronológica. A chuva lá fora cai conforme o pulso das minhas lágrimas jorram, o vento bate forte na janela conforme as batidas enlouquecidas do meu poema. E meu coração golpeia com força dentro do peito, quase que estourando os outros órgãos, quase que querendo sair. Assim como, minha cabeça dói. Assim como, meus pensamentos se embaralham. E não tem sentimentos fortes, é só tesão pelo medo de não querer. É só proteção pelo medo de não ter. É só restrição pelo medo de não amar. Não me leve a mal, mas esse negócio de se prender já passou. O dever de querer já ficou no passado, o amor que carregava no peito morreu. Hoje o que tenho é apenas cicatrizes. Cicatrizes de uma vida de rei, mas sem verdade. O que carrego hoje no peito é só mágoas e gelo. O coração hoje não palpita mais a ponto de estourar-me, as lágrimas não jorram com o pulso da chuva, e meu poema não enlouquece pelas batidas de ventos na janela. 'Eu sou poeta e não aprendi a amar'.

Emily Cohen

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Meio sem jeito

Me perguntaram se eu conhecia você. Eu parei, pensei, lembrei. Vieram tantas lembranças boas, tantos sorrisos bobos e tantos arrepios no corpo. Me veio o teu sorriso de canto, o teu olhar de espanto. Me veio você nas lembranças, nos pensamentos. Mas estava tudo perdido, meio corroído. Meio sem nexo. Pensei bem, e me perguntaram de novo se eu conhecia você. Sorri meio sem jeito, meio no devaneio, olhei a lua, olhei o céu. Me perguntaram novamente se eu conhecia você e então eu respondi: "Antes eu costumava conhecer, hoje eu não conheço mais" . E meio sem jeito, olhava o mar e tentava desvendar por onde você se perdeu do meu caminho, por onde você se fez um desconhecido, por onde eu te esqueci.

Emily Cohen

Na muralha que eu construí

O relógio bate  nas mesmas horas, o mundo gira na mesma ordem. É tudo tão intenso, e ao mesmo tempo é tudo tão parado, tão monótono. Minhas unhas hoje estão arrumadas, não estão quebradas ou trincadas, estão bem feitas e pintadas. Minhas pernas estão depiladas e meu cabelo, nenhum fio fora do lugar. Hoje eu não sou mais aquela mesma garota, toda despreocupada, hoje eu tenho mais do que você imagina. E muito menos do que inventam. Hoje eu aprendi a ser eu. E não me importaria se estivesse comigo, seria feliz do mesmo jeito que sou. Hoje o tempo pulsa de um jeito diferente, o mundo gira em outra frequência e a música que toca no rádio não é mais a nossa música. O tempo mudou o meu jeito de agir, pensar. Me amadureceu, me fez grande e ao mesmo tempo pequena. Mas o tempo também pregou as suas peças em minha caminhada, levou as pessoas que eu amava, tirou do meu caminho pessoas que eu imaginava que ficariam sempre ao meu lado, tirou meus amores, levou com o vento meus sentimentos. Mas deixou vivo meu medo de que um dia, quem estaria indo embora era eu. Deixou vivo a insegurança de um novo começo. E com isso o tempo me empurrou pra frente, mas mesmo assim o tempo não apagou minhas memórias, não apagou os meus sorrisos. E a cada pedra que cruzava meu caminho, guardava, e hoje as pedras que já passei  fazem parte da minha muralha. E as tantas pedras que ainda não enfrentei, farão parte do meu castelo. E o tempo? O tempo passa, rola, vira, volta, vai e vem. O tempo voa como ninguém. E quando nos dermos conta já vai ter passado esse tempo que pensamos que tínhamos. Com o tempo, nossa vida também passa e em um piscar de olhos já estamos morando sozinhos, criando família e querendo encontrar os velhos amigos. E o tempo? O tempo passa, rola, vira, volta, vai e vem. O tempo voa como ninguém. E o tempo passa e um dia tudo acaba.

Emily Cohen