sábado, 13 de julho de 2013

Canto para não chorar

"Eu, menina ingênua, abobada, como pude. Logo eu, assim tão fácil  de cernir de tão pouco de ti e mesmo assim morrer amando-te. Morrer querendo-te. Logo eu, que viva a tagarelar feito louca de como o amor era patético, e de como tornava as pessoas hipócritas. Justo eu, me soltei levei, feito pena que é carregada pelo vento, me entreguei simples e intensa feito a bailarina se entrega ao palco, às luzes. E muito de mim, ainda é pouco, e pouco de mim ainda é muito. É calmaria e vendaval. Sol e lua. Fogo e água. É bobagem, talvez tolice ou só egoísmo. Mas, assim de cara, logo eu que não me entregava, não me soltava, não me sentia. 


De sua eternada amada, Anabell" 


Assim estava escrito no bilhete. Pouco dela restou, hoje só um laço vermelho que ficou socado no fundo do baú e seu bilhete com marcas d'água colocado no fundo. O laço vermelho me lembrou das bochechas dela, tão avermelhadas quando sorria pra mim. O bilhete, me fazia chorar quando a dor era forte. Lembrei-me do batom que ele comprara, mas nunca usara. O vestido que caia perfeitamente em tuas curvas. Teu lindo sorriso quando me via. Lembro-me de quase tudo dela, só não me lembro como a perdi. Se foi o mar que a engoliu, ou a tempestade, ou o navio, não ficaria surpreso se ela fosse levada por eles, ela era a imagem perfeita de algo absurdamente leve, calmo. Todos desejavam, talvez o mar tivesse inveja de mim por te-lá em meus braços, pois quando corria brincando com ela à beira mar, ele sempre vinha jogar tuas ondas em cima de nós, como se quisesse tirá-la de mim. E o vento, que sempre desarrumava o cabelo dela, mas ela era linda de qualquer jeito. Então, o navio... esse talvez tenha sido o mais sortudo, por levava de mim, e da terra. Aquele olhar tão complexo, e assustado que me olhava antes de embarcar, o sorriso de tristeza que pusera no rosto... essa foi a última imagem que tenho em mente dela. O último momento que a vi. Ela guardava, em seu baú o vestido, o batom, o bilhete e o laço. Mas nunca voltara para vesti-los, para alegrar meu olhar e aquecer meu coração com aqueles lindos olhos, me agradar com deleite e poder por fim chamá-la de minha. Nunca voltou...nunca. Talvez achassem que era coisa demais guardar aquele sorriso só para um homem, um pobre homem, talvez me achassem feio demais, imperfeito, sonhador, louco. Nunca a devolveram a mim. E eu sonhei com ela chegando, no horizonte, dando sinal de "oi" com teu lenço azul céu, não teve uma noite sequer que eu não sonhasse com ela voltando aos meus braços, sorrindo e dizendo o quão abobada estava minha feição. E eu morri com ela naquela tempestade, minha vida fora escrita à ela. Não havia nada sem ela, nada. Nem sequer um grão de areia. Eu sobrevivi sem ela, mas com a esperança que a encontraria ainda. Eu sonhei com ela até o dia que me desmancho em lágrimas a escrever isto. Talvez a encontre agora... agora que meu coração quase não bate, que meus pulmões quase não funcionam, que meus rins morrem aos poucos, agora que meu cérebro já não se lembra das palavras ditas a segundo atrás. Talvez eu a veja sorrindo ao me encontrar, ela com seu lenço azul, acenando ao me ver chegar. Talvez ela se lembre de mim, e corra entre as nuvens pra vir me abraçar. Ou talvez passe despercebido. Prefiro acreditar que ela se lembrará de mim. E por fim, conseguiremos nos beijar, nos abraças, ser felizes, mesmo que em outro plano ou que apenas sentemos à beira mar e ele veja que ela era e sempre foi minha. E assim, poder desfrutar do amor que sonhei todos os dias na minha passagem em terra.