Sentada na calçada agora ela chorava, se batia , se machucava. Olhava o céu, olhava a rua. Olhou tudo, observou tudo, ainda soluçando de tanto chorar, começou a crise. Crise de existência, crise de carência, crise de solidão. Ela sempre foi sozinha, e já estava cansada de caminhar só. Por isso enlouquecera. Por isso morria sozinha. Mas foi ela quem escolheu assim, levava uma vida miserável, mas tinha tudo o que precisava (ou quase tudo) : tinha casa, roupas novas, mãe, pai, irmãos, cachorro, quarto, carro. Mas ela não tinha amor. Amor próprio, amava as pessoas estranhas, repugnância às pessoas que a amavam, queria aqueles que não podia querer. Amava os outros , não pensava nela. E ela enlouqueceu. Seu espírito indomável se entregou aos braços do mais belo homem, que sem piedade o arrancou e levou consigo. E a deixou-a lá, enlouquecendo. Dizem que ela era linda, dizem que nunca se apaixonava e que era durona demais pra isso. Não se privilegiava dos sentimentos de amor. Sabia viver bem, até ele aparecer. Ainda sentada na calçada, parecia perdida em meio ao negro céu. Eu a observava de minha janela, tive medo de saber o que pensava. Então ela ficou lá, até morrer. Ninguém sabe dizer o que causou sua morte, se foi doença, frio, fome, mas dizem que não foi aquela noite que a matara, mas sim aquela vida que levara. Dizem que ela já estava morta consigo, e que isso era a pior morte que se tinha. E assim morreu Daniela, sem explicações, com muitas contraversões, mas sem opções. Daniela era menina forte, era. Era menina. Daniela se foi.
Emily Cohen
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