sábado, 21 de abril de 2012

O frio passa

Fazia frio e meu cobertor não me esquentava o suficiente, então liguei pra você, para pelo menos tentar ouvir sua voz...

Telefone chama, e logo ouço:

-Alô?!
-Oi! Sou eu...(breve silêncio)
-Sinto sua falta, você sumiu.
-Pois é, tive que sumir, mas você não se importou.
-(Silêncio)
-Não liguei pra falar do passado, e sim do presente, do meu presente!
-Diga!
- Não tô podendo com isso, tá doendo demais.
- O que tá doendo?
-Sua ausência, seu abraço, teu calor. Meu cobertor não me esquenta mais.
(Longo Silêncio, depois de um bom tempo sem falar, só ouvindo sua respiração, ele diz.)
-E o coração, como tá?
-Tá batendo, tá normal, mas dói ás vezes.
-O que sente?

-Sinto uma dor muito forte, umas pontadas que me fazem cair no chão, umas dores que me tiram lágrimas.
-Já foi no médico?
-Não preciso, essa dor não é física. Essa dor é a da ausência, e da minha falsidade. Das minhas máscaras desgastas pelo uso excessivo, principalmente das felizes, essas são as mais usadas, porque elas cobrem a minha dor. Mas nos olhos, não dá pra fingir, não dá pra fingir por dentro, não tem como inverter, sabe? É difícil... não se importar, você sabe bem, nunca se importa.
-(silêncio)
-Mas não precisa dizer nada, o que aconteceu é passado, eu vim falar só do presente, do meu presente. E meu presente dói, meu presente é falso, e machuca. Mas eu tenho que ser forte, fingir que não dói o coração, aliás fingir que não tenho um, porque assim parece mais fácil. Se você se leva pelos sentimentos, você morre. Morre por você mesmo. É mais fácil fingir então. Fingir estar bem...
-Mas meu coberto pode te aquecer. De novo.
-Não! Cansei de mostrar o que tem atrás das minhas mascaras. Porque as ultimas vezes, eu morri e continuei sobrevivendo. Só que dessa vez, eu morro, mas revivo. Vai passar, o frio é passageiro.

Telefone mudo.

Emily Cohen

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